Tags: arte, história da arte
Autor:André Gurgel
Acredito que a arte tem a capacidade de nos tornar pessoas melhores. Neste mundo de mídias sociais em que as pessoas mal têm tempo de ler livros, em que se deseja a informação rápida, apreciar obras de arte tornou-se obsoleto. Tendo isto em mente, comecei este ano uma atividade com meus alunos na qual eles fariam análises de grandes obras de vários períodos históricos. Uma das que mais chamou atenção foi a Criação de Adão de Michelangelo.
A obra foi produzida no período do Renascimento, movimento artístico que buscava resgatar os padrões da cultura greco-romana, mas, é claro, presente também a temática cristã. Destarte a Igreja de Roma teve papel imprescindível na criação de obras imortais ao patrocinar gênios como Michelangelo, Botticcelli, Da Vinci, Fra Angelico, Rafael etc.
O jovem Michelangelo já era um artista de renome na época em que o Papa Júlio II resolveu reformar sua capela pessoal, a célebre Capela Sistina, mas o artista era apenas considerado um grande escultor, e poucas vezes havia se aventurado na pintura (veja o Tondo Doni de 1507). Um arquiteto concorrente, Donato Bramante, sugeriu ao Papa que chamasse Michelangelo para pintar o teto da capela, esperando que fracassasse, mas il divino, como é conhecido em italiano, surpreendeu ao papa e a todos seus contemporâneos com seu talento inigualável. Para verem como intrigas na classe artística sempre existiram, até na Renascença!
Na Criação de Adão vemos uma beleza sublime e inexplicável! Diria que a obra de arte magnífica é aquela que enaltece o que o homem tem de melhor. Busca-se o belo além de tudo. Há obras que nos chocam, como a tela de Goya em que Crono engole um filho, mas mesmo assim podemos encontrar a beleza, diferente de algumas obras de arte moderna atuais sobre as quais prefiro não comentar.
As figuras são facilmente identificáveis. Temos Deus à direita e Adão à nossa esquerda. Por outro lado, há muitas perguntas sem resposta que intrigam historiadores da arte há cinco séculos! Observem o manto no qual Deus, na figura de um homem velho se cobre. Seria este um cérebro humano, simbolizando a força criativa, ou talvez, com o mesmo simbolismo, um útero? Pode parecer esdrúxulo, mas os artistas da Renascença tinham verdadeira obsessão pelo corpo humano e estudavam a anatomia, buscando reproduzi-la em todos os detalhes.
Por quê os dedos das duas figuras não se tocam? A hipótese mais provável é que Michelangelo, um cristão fervoroso, mostra-nos que o homem deve buscar o divino, mas não tentar igualar-se a ele. Para os estudantes de medicina e enfermagem, que tal pensarmos como uma espécie de sinapse?
Por último, mas não menos importante, quem são as figuras ao redor de Deus? Há quem ache que a mulher seja Eva; outros, que seja Maria. As figuras ao redor seriam anjos ou talvez a própria futura descendência de Adão.
A criação de Adão e todos os afrescos na Capela Sistina são obras de suma importância. Todos deveríamos visitar um dia para perceber como o ser humano pode criar obras sempiternas. Costumo dizer que as grandes obras são aquelas que podem nos intrigar, até chocar às vezes, mas, ao mesmo tempo, mostrar como o ser humano pode ter algo de maravilhoso e quiçá até de divino dentro de si.
Veja no link abaixo minhas palestras sobre arte e história: https://polimatiablog.wixsite.com/polimatia/about-3
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