O brasileiro, principalmente o nordestino, é portador de uma doença grave, uma enfermidade que maltrata o intelecto. Trata-se do ‘complexo de vira-lata’!
Embora não tenha sido catalogado como uma doença grave, o complexo de vira-lata é altamente contagioso, mas seu conceito e seus sintomas nunca foram descritos na literatura médica. Se o leitor quiser aprofundar-se no tema, deverá primeiramente consultar os escritos do célebre escritor Nelson Rodrigues, que assim o definiu:
“Por ‘complexo de vira-lata’ entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. O brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Eis a verdade: não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a autoestima.”
Agora que o leitor já está familiarizado com o conceito, deve ter percebido que todos nós sofremos desta enfermidade, e que Nelson Rodrigues, melhor que qualquer médico famoso, descreveu o mal de que padecemos. Afinal, será que valorizamos a nossa cultura nordestina? Qual foi a última vez que lemos uma obra de cordel? Será que somos familiarizados com a riquíssima tradição, com o folclore do nosso estado e dos nossos vizinhos?
Há países que valorizam suas culturas, pois tem ciência do legado de seu povo. A França divulga sua cultura pela Aliança Francesa; a Itália, pelos Institutos de Cultura Italiana (ICI); a Alemanha e a Espanha, pelo Instituto Goethe e Instituto Cervantes, respectivamente. Até mesmo aqui no Brasil temos os ‘Centros de Tradições Gaúchas’ (CTGs). Agora faço uma pergunta: por que não existe um centro de tradições nordestinas aqui no Nordeste? A resposta está no nosso complexo de vira-lata!
Um dia gostaria de criar o ‘Espaço Ariano Suassuna’ para a preservação e disseminação da nossa cultura. Englobariam várias atividades como cordel, música, literatura e folclore. O Espaço seria assim batizado porque não há escritor que tenha expressado melhor a alma do nordestino do que o autor das obras ‘Auto da Compadecida’, ‘Farsa da Boa Preguiça’ e ‘ A Santa e a Porca’. Ariano Suassuna foi um homem sem igual, que amava sua cultura. Embora respeitasse muito a cultura de outros países, e, como ele mesmo dizia "não trocava seu oxente pelo okay de ninguém".
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