Tags: Arte, Finanças
Por André Gurgel
Pode parecer estranho conectar estas duas áreas do saber. Afinal imagina-se que quem conhece arte não dever ter muito interesse por finanças e mercado financeiro. Porém, para terem uma ideia, o mercado de arte movimenta bilhões de dólares todos os anos! No texto de hoje vamos mostrar a conexão entre os dois assuntos, vislumbrada nitidamente na obra de Brueghels acima que retrata de forma magistral a bolha das tulipas!
Inicialmente vamos explicar de forma sucinta o que foi o evento histórico conhecido como tulipomania ou bolha das tulipas. O fato ocorreu nos Países Baixos durante o século XVII, especialmente entre os anos de 1634 e 1637. Costuma-se pensar que foi a primeira crise econômica, descrita especialmente na obra Memorando de Extraordinários Engodos Populares e a Loucura das Multidões do escocês Charles Mackay. Suas causas fazem lembrar bastante como as crises atuais acontecem, com uma fase de otimismo exagerado, seguido de uma queda vertiginosa no preço de um ativo. A obra de Mackay relata que ocorreu uma crise global. É possível, visto que os Países Baixos eram uma potência, mas isto ainda é muito disputado por historiadores.
Caracterizou-se por uma febre especulativa em torno do comércio de tulipas, flores exóticas e de grande valor na época. Havia um status social associado à posse de tulipas raras e exóticas de origem turca. A especulação atingiu seu auge em 1637, quando o mercado de tulipas entrou em colapso abruptamente, resultando em uma crise financeira significativa para muitos especuladores.
Na pintura, Brueghel, o Jovem, retrata uma cena caótica, repleta de pessoas de diversas classes sociais envolvidas no comércio da flor. O foco central da composição é um mercado lotado onde se pechincha pelos bulbos. As expressões e gestos exagerados das figuras transmitem uma sensação de frenesi e ganância, destacando a irracionalidade e a loucura da mania das tulipas. Repleta de elementos simbólicos, a pintura mostra os perigos da especulação e a loucura coletiva que ocorre antes das crises, até lembra um pouco a obra “cegos guiando cegos” do mesmo autor, mas isto é assunto para um texto posterior.
Uma característica marcante da pintura é a presença de macacos antropomorfizados, engajados em atividades relacionadas ao comércio de tulipas. Com certeza satirizam o comportamento irracional exibido pelos investidores durante a mania das tulipas. No fundo pode-se observar até uma cena em que lutam, provavelmente pela posse de bulbos de tulipas e à direita um deles urina nas flores, mostrando a futilidade da bolha. Vale lembrar que a simbologia dos macacos no oriente representa a mente inquieta e sem foco, que só obedece aos instintos e não à racionalidade.
Quando será que teremos a próxima crise, a próxima tulipomania, com seu otimismo passageiro seguido por um ciclo de pessimismo quase apocalíptico? Ninguém sabe, mas podemos observar seus sinais. Assim foi com a crise de 2008 quando o médico Michael Blurry conseguir prever o ciclo de mercado e lucrou alto com isso. Por outro lado é muito difícil estabelecer quando irá ocorrer. Nenhum economista ou analista do mercado tem uma bola de cristal. A melhor forma de se preparar contra uma crise é saber com proteger o portfolio e não especular sobre quando a próxima quebra da bolsa irá ocorrer!
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