top of page

Análise de obra: Ordem de Soltura

polimatiablog

tags: arte

Por André Gurgel




Continuando nossas análises de obras de arte, hoje trago para vocês mais uma obra do pintor pré-rafaelita Millais: A Ordem de Soltura. Tomei conhecimento sobre esta obra quando estive na Escócia e comprei um livro sobre a Batalha de Culloden.


Os pré-rafaelitas foram um movimento no século XIX de revolta contra as estéticas artísticas que estavam em voga na época. Eram sete membros da Irmandade Pré-Rafaelita, dos quais Millais foi um dos mais talentosos, com sua exploração das emoções em seus personagens e sua atenção aos mínimos detalhes.


Antes da análise visual, um pouco de contexto histórico: os Levantes Jacobitas foram uma série de revoltas contra a dinastia de Hanover e que almejava a volta do rei escocês Jaime ao trono britânico. Os mais famosos ocorreram em 1715 e 1745, e os jacobitas tiveram vitórias relevantes, mas sofreram uma derrota fulminante contra o exército britânico em 1746 na famosa Batalha de Culloden.


A pintura de MIllais retrata um reencontro entre um soldado jacobita, ferido em batalha, com sua família. O artista não mostra o rosto do homem, que repousa contra o ombro da esposa. Talvez Millais quisesse demostrar sua vergonha pela derrota ao ocultar-lhe o rosto. A mulher tem uma aparência cansada, mas podemos ver uma felicidade contida pelo marido estar vivo, e entrega a ordem de soltura ao soldado que, com um olhar talvez burocrático, sem emoção, apenas confirma sua autenticidade. O detalhe também interessante é o cachorro, que reconhece o dono, uma temática recorrente na literatura, iniciada talvez por Homero cujo personagem Odisseu é reconhecido pelo velho cachorro Argos, que morre de emoção.


A pintura de Millais é célebre por sua representação detalhada das figuras e pela expressão das emoções das figuras envolvidas na cena. Ela oferece um vislumbre poderoso do impacto dos eventos históricos, talvez até uma mensagem pacifista. Não é possível saber a qual dos levantes, mas é interessante este detalhe sobre o qual tenho uma teoria: Há rosas brancas no chão, perto da esposa; o bebê parece estar dormindo, mas segura uma rosa branca, que era um símbolo jacobita. Será que Millais estaria tentando dizer que a causa jacobita ainda não estava completamente perdida, sendo retomada por uma nova geração, ou fazia apenas alusão ao segundo levante, o de 1715 e que seria retomado em 1745? Ouro detalhe é a cor vermelha do traje da criança, cor do brasão dos Stewart, a família real exilada. Um mistério para os historiadores da arte!

152 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page